Minha trajetória como leitora
Sou uma professora do interior da Bahia, preocupada com a educação, mas apaixonada pelo que faço. Costumo dizer que não sei fazer outra coisa a não ser dar aulas. Acredito que essa “paixão” começou logo na minha infância, pois fui morar com minha avó paterna, meu avô, uma tia e dois tios. Minha mãe teve muito pouco estudo e hoje acho que está lendo melhor porque é evangélica e lê a Bíblia, já meu pai fez até o exame de admissão e parou.
Do contato com meus tios, que eram professores, partiu o desejo de ensinar e lembro-me que ao brincar de bonecas, sempre era a professora de psicologia. Comecei a estudar muito cedo, por incentivo e estímulo de minha tia, que era muito exigente, mas tudo que sou hoje agradeço a ela. Sempre estive entre as primeiras alunas da turma e já recebi até um prêmio como a melhor aluna da escola.
No fundamental I e II tive pouco contato com os textos literários, pois só utilizava os livros didáticos. Gostava muito de poemas e tinha facilidade para aprendê-los e declamá-los. Nas datas comemorativas, lá estava eu declamando alguns poemas, a convite dos professores.
O primeiro livro que ganhei foi Meu pé de laranja-lima, que meu tio me deu. Confesso que não gostei muito e quase não chego ao fim da leitura. Depois ganhei um livro de orientação sexual, já na adolescência e mais ou menos na oitava série li alguns romances “cobrados” pela professora de Língua Portuguesa. Li Iaiá Garcia, Tonico e Carniça, A ilha perdida, etc.
Ingressei no magistério e o contato com os livros continuaram sendo com os textos utilizados no curso: muita coisa de didática, um pouco de psicologia e nada de poemas e romances. Depois que concluí o ensino médio não lembro de ter lido muita coisa, apenas um título me chamou atenção que foi “O arco do triunfo”. Então foi instalada na minha cidade a Universidade do estado da Bahia- UNEB.
Sempre tive vontade de continuar meus estudos e não pude fazê-lo fora, com o casamento e depois com o nascimento de meu filho. Tempos depois a oportunidade chegou e não podia deixar passar. Fui a primeira pessoa a se inscrever para prestar o vestibular da UNEB, Campus XIV. Aprovada em Letras com Inglês, comecei a freqüentar as aulas e as dificuldades foram surgindo, visto que tinha me distanciado totalmente da educação e dos estudos.
Com o tempo fui me acostumando com o ritmo da faculdade e a partir das aulas de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira e Portuguesa, o interesse pelos livros reacendeu e comecei a ler vários romances, os cobrados no curso e outros não cobrados também.
Concluído o curso de Letras fiquei alguns anos sem estudar, mas lendo alguma coisa, aí então surgiu uma pós-graduação em Estudos Literários. Fiquei muito interessada e logo de cara veio dentre a bibliografia o livro “A aula” de Roland Barthes. Foi uma leitura muito agradável e consegui ser aprovada na seleção, comecei a especialização e a também a fazer várias leituras. Apaixonei-me por literatura brasileira e portuguesa. Li várias obras, principalmente Machado de Assis, José de Alencar, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, etc.
Quando estava terminando a especialização fui aprovada no concurso público para professores do estado da Bahia. Comecei a trabalhar com Língua Portuguesa e Literaturas, principalmente a Brasileira. Realizei junto com meus alunos e alguns colegas, várias atividades, onde trabalhamos a Literatura de Cordel e até a leitura de várias obras da literatura brasileira para serem encenadas depois. Foi um trabalho extremamente rico e percebemos o interesse dos alunos com obras de Graciliano Ramos, José de Alencar, Machado de Assis, Jorge Amado, dentre outros, que além da leitura foram feitas também apresentações no pátio da escola para que todos pudessem participar das atividades.
Surgiu então o processo seletivo para formadores do Gestar. Fui fazer sem saber muito bem o que era. Selecionada, estou trabalhando até hoje como formadora de Língua Portuguesa. Costumo dizer que aprendi e li mais no Gestar do que durante toda minha vida de estudante e até comecei a anotar em uma agenda todos os títulos lidos a cada ano e percebi que eram mais de dez: romances e livros teóricos como “O texto na sala de aula”, “ler e escrever na escola, o real o possível o necessário”, de Délia Lerner, “Estratégias de leitura” de Isabel Solé, além de vários outros livros sugeridos nas referências bibliográficas de cada TP. Comecei a comprar livros pela internet. Fazia uma lista e comprava-os de uma só vez para obter melhores condições de pagamento.
Enfim, o Gestar realmente me proporcionou e proporciona momentos de prazer não só através dos estudos que faço e que sugiro a meu professor cursista, mas principalmente, quando faço uma oficina, indico leituras, mostro os livros e percebo que estou contribuindo para melhorar a educação do meu país, estado e da minha cidade.
Telma Iracema Cedraz Cruz
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